Por que razão essas duas palavras tão parecidas, com a mesma
sílaba tônica, apenas uma delas leva a acentuação gráfica?
Há uma regra prática para se saber se uma palavra leva
acentuação gráfica ou não e a regra é sempre a da exclusão, sempre a do
extraordinário. Por exemplo, o trivial não se acentua, o incomum é acentuado.
A primeira regra a se entender é a divisão das palavras
conforme a sílaba tônica. Essa divisão é bem conhecida – Oxítona, paroxítona e
proparoxítona.
Oxítonas possuem a última sílaba tônica, com ou sem
acentuação gráfica: sagüi¹, caçulé, vatapá, mocotó, urubu, cantar, banal, pneu,
Tadeu. Depois vamos falar das regras, mas parece que você já entendeu.
Paroxítonas são mais comuns e possuem a penúltima sílaba
tônica, acentuada, ou não: saúde, Moçambique, batata, bolo, lápis, Róger², depois
vamos falar das regras, mas parece que já ficou mais ou menos claro.
Proparoxítonas, finalmente, são as palavras que possuem a
antepenúltima sílaba tônica, dessa vez SEMPRE, com acentuação gráfica: última,
sílaba, tônica, bêbado, trôpego, pútrido, oxítona, gráfica... Essa é a regra,
todas as palavras proparoxítonas levam acentuação gráfica. Não tem nenhuma
exceção? NÃO! Mas observe a regra, ou falta dela, dos nomes próprios, nota nº
2.
Voltando à regra das oxítonas, nós percebemos que, as
oxítonas terminadas nas letras “i” e “u”, com os sem adição de “s”, quer
palavras no plural ou não, bem como nas terminadas em “r”, “l”. Parece muita
decoreba, mas é mais simples do que parece. Basta procurar palavras parecidas,
quer contrario sensu, quer no mesmo sentido. Explico. Lápis tem acentuação
gráfica no “a”, porque é paroxítona terminada em “i”, acompanhada de “s”. A
letra “s”, ao contrário de outras consoantes, não influi na sílaba tônica,
porque é muito usada no plural e, por contaminação, acaba não influindo em
outros casos. Se não houvesse acentuação, seria lido lapÍs, porque
sagüi, Patati, escrevi, reli, entendi... Também não leva acentuação:
Falando um pouco mais detidamente sobre a contaminação por
causa dos plurais, se vatapá leva acentuação, então vatapás também leva acento.
Se carijó leva acento, a palavra “carijós” também leva e, por extensão, também
Tapajós. Se café é acentuado, também a palavra “cafés” deve ser acentuada e,
por extensão, viés, revés, invés, convés etc. Assim sendo, a regra não muda se
a palavra termina em “s” ou não, sendo ela no plural ou no singular.
Um parâmetro bem seguro são os verbos conjugados. Quando uma
conjugação verbal apresenta oxítonas, então as palavras que tenham uma
configuração semelhante, não terão acentuação gráfica. Se você tem dúvida se “piriri”
ou “Acari” leva acentuação, basta verificar se reli, bebi, biparti, leva
acentuação. Contrário sensu, então biquíni tem que levar acentuação
gráfica no segundo “i”, porque senão ficaria “biquinÍ”.
O caso das palavras terminadas em ditongos “ai”, “ei”, “oi”
e “ui”, mantêm-se como oxítonas, mas a acentuação é na penúltima letra, senão vira
hiato. A regra da conjugação verbal vale aqui também: cantai, peguei, foi,
anui. Essa última palavra, é na terceira pessoa do singular, se for a primeira
pessoa do singular, daí é hiato e tem que levar acentuação “anuí”.
As paroxítonas, então são a exceção da exceção. Aparentemente
possuem acentuação gráfica apenas para que não se apliquem as outras regras. Mas
nesse caso, também, basta procurar palavras parecidas. Há uma regra gramatical
de vogais mais fortes e vogais mais fracas, na formação de ditongos e hiatos,
mas isso é simplesmente uma teorização de uma realidade. Todo mundo sabe que “Laura”
é um ditongo, da mesma forma que “Mauro” e caule. Por isso, se eu
escrever “saude", da mesma forma que Laudes, haverá ditongo.
Se eu quiser formar um hiato aí, então eu tenho que acentuar, daí vira “saúde”.
De outro lado, Luana, Ruanda, Coala, miau,
boa etc., são hiatos, não por uma convenção , mas por causa de uma
realidade na hora de pronunciar as sílabas, que, naturalmente, quando se fala “ai”
ou “mãe” a articulação da palavra, naturalmente, requer que seja ditongo, ou
seja, as vogais dentro da mesma sílaba, mas quando se fala Lua, Pia, Boa, etc.,
naturalmente a articulação da palavra demanda um hiato. Dizendo mais, ainda,
Luau, Miau, entediai, possuem uma estrutura parecida, sendo que o “u” em
relação ao “a” e o “i” em relação ao “a” sempre são hiatos, e o “a” em relação
ao “u” e ao “i” são ditongos. Por isso que, se eu escrever Jundiaí, eu tenho
que acentuar a letra “i”, de outra forma a conjugação da segunda pessoa do plural do verbo judiar, que seria “judiai”, não é
acentuada.
Enfim, o macete que
eu gostaria de passar para vocês, além de explicar um pouco sobre as regras, é
a utilização de palavras parecidas. Se você não conseguir palavras dentro das
mesmas regras, tente palavras parecidas, com regras diferentes. Cito exemplos:
Você sabe que oxítonas terminadas em “i” não levam
acentuação gráfica. Jundiaí é uma oxítona terminada em “i”. Será que leva
acento? É difícil encontrar uma palavra parecida com Jundiaí, com três vogais
no final da palavra com acentuação na última letra. Então procure palavras terminadas
com essas mesmas três vogais que tenha acentuação em outro lugar. Judiai assim
como cantai, falai e perguntai, não tem acentuação, então, para que a
acentuação seja na última letra, formando um hiato e não um ditongo entre o “a”
e o “i”, então você tem que acentuar a letra “i”, mesmo sendo oxítona terminada
em “i”, por causa da regra das vogais fortes e vogais fracas na formação dos
ditongos e dos hiatos.
Patati? Patati é uma palavra que, se você escrever no Word,
vai aparecer sublinhada de vermelho, quer você escreva com, quer você escreva
sem acentuação. Leva acentuação ou não? Segue a mesma regra de Parati, extorqui,
diverti, assisti, garanti, emiti... Se tem uma conjugação verbal regular, então
essas palavras são mais comuns, sendo palavras comuns, não se acentua, logo,
Patati não leva acentuação.
Já o companheiro dele, o Patatá, da mesma forma que vatapá,
cajá, tacacá, e outras delícias da culinária regional do Brasil levam
acentuação. Para ter certeza, basta pesquisar palavras que possuam uma
configuração semelhante com a acentuação em outra sílaba, como batata, macaca,
banana, cocada, bolacha... Essas palavras não levam acentuação gráfica, então,
caso fosse “MÁcaca”, ou “macaCÁ”, da mesma forma que máscara, ou
vatapá, nesses casos levariam acentuação.
Outros exemplos:
Túnel segue a mesma regre de possível, crível e plausível, contrario
sensu, se eu escrever funil, ardil, abril, hostil e gentil, não leva
acentuação, então, fútil, útil, pênsil e fóssil, leva acentuação, por causa da aplicação
da mesma regra.
Cárter, que é uma peça do motor dos automóveis, paroxítona terminada em “r”, segue a mesma regra de mártir e caráter. Para ter certeza, basta verificar se as oxítonas terminadas em “r” levam acentuação gráfica. Aqui nós temos todos os verbos no infinitivo e nenhum deles leva acentuação gráfica. Se as oxítonas terminadas em “r” não são acentuadas, então, por exclusão, as paroxítonas são acentuadas.
Agora as palavras terminadas em “z” que não sejam
monossílabas?
Voraz, mudez, feliz, veloz, induz, raiz, juiz, Luiz, Inez² –
Aqui é importante apontar que a letra “z”, muito embora, em muitos casos,
possua a mesma pronúncia da letra “s”, ainda mais no final das palavras, a
regra para a letra “z” é diferente da regra para a letra “s”. Se as oxítonas
terminadas em “as”, “es” e “os”, como Carajás, Cafés e Tapajós, as oxítonas
terminadas em “z”, nenhuma delas deve levar acentuação.
De outro lado, português, freguês, Inês, Luís², montês, viés, invés, através e Aimorés e após, levam acentuação gráfica.
Eu procurei bastante por palavras paroxítonas terminadas em “z”,
mas aparentemente todas elas são oxítonas, até porque, em português, há poucas
palavras com essa terminação.
A regra das palavras monossílabas é exatamente a mesma,
entendendo a palavra inteira como se fosse a última sílaba da palavra:
Se feliz, capataz e refez não levam acento, então paz, fez e
giz também não leva.
Se vatapá, acarajé e esquimó leva acento, assim como os
respectivos plurais, então pá, fé, lê, Ló, nós. Observe que o pronome do caso
reto “nós” leva acento, mas a castanha “noz”, não leva.
Essa regra não se aplica quando a monossílaba for pronome do
caso oblíquo (me, mim, comigo, te ti, contigo, lhe, se, consigo, nos, conosco,
vos convosco, lhes), assim sendo, a conjugação do imperativo do verbo ler, que seria “lê”, é acentuada, mas o pronome lhe, me e se não são.
O pronome oblíquo lhe é o único que pode ser flexionado como “lha”, e “lho”,
mas, da mesma forma, mesmo pá, nó e a interjeição “sô” levando acentuação, esses pronomes não levam acentuação gráfica, isso
porque eles são os oblíquos átonos e, como átonos que são, não
levam acentuação tônica.
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1. Devido à Reforma
Ortográfica, a qual em não aderi nas minhas petições e nos meus textos
escritos, o trema caiu em desuso. Eu mantive o trema nessa palavra para auxílio
no entendimento da pronúncia.
2. Nomes
próprios, nem sempre, seguem a regra gramatical do Brasil, porque, como nomes
próprios, principalmente sobrenomes, são das mais diferentes origens possíveis, seguindo as regras gramaticais dos idiomas de origem, à época em que tais substantivos próprios foram cunhados,
sem contar que há erros no registro, escrevendo-se Luíz, Inêz, etc.
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