sexta-feira, 15 de junho de 2018

Aprenda a acentuação com Patati Patatá


Por que razão essas duas palavras tão parecidas, com a mesma sílaba tônica, apenas uma delas leva a acentuação gráfica?




Há uma regra prática para se saber se uma palavra leva acentuação gráfica ou não e a regra é sempre a da exclusão, sempre a do extraordinário. Por exemplo, o trivial não se acentua, o incomum é acentuado.

A primeira regra a se entender é a divisão das palavras conforme a sílaba tônica. Essa divisão é bem conhecida – Oxítona, paroxítona e proparoxítona.



Oxítonas possuem a última sílaba tônica, com ou sem acentuação gráfica: sagüi¹, caçulé, vatapá, mocotó, urubu, cantar, banal, pneu, Tadeu. Depois vamos falar das regras, mas parece que você já entendeu.

Paroxítonas são mais comuns e possuem a penúltima sílaba tônica, acentuada, ou não: saúde, Moçambique, batata, bolo, lápis, Róger², depois vamos falar das regras, mas parece que já ficou mais ou menos claro.

Proparoxítonas, finalmente, são as palavras que possuem a antepenúltima sílaba tônica, dessa vez SEMPRE, com acentuação gráfica: última, sílaba, tônica, bêbado, trôpego, pútrido, oxítona, gráfica... Essa é a regra, todas as palavras proparoxítonas levam acentuação gráfica. Não tem nenhuma exceção? NÃO! Mas observe a regra, ou falta dela, dos nomes próprios, nota nº 2.

Voltando à regra das oxítonas, nós percebemos que, as oxítonas terminadas nas letras “i” e “u”, com os sem adição de “s”, quer palavras no plural ou não, bem como nas terminadas em “r”, “l”. Parece muita decoreba, mas é mais simples do que parece. Basta procurar palavras parecidas, quer contrario sensu, quer no mesmo sentido. Explico. Lápis tem acentuação gráfica no “a”, porque é paroxítona terminada em “i”, acompanhada de “s”. A letra “s”, ao contrário de outras consoantes, não influi na sílaba tônica, porque é muito usada no plural e, por contaminação, acaba não influindo em outros casos. Se não houvesse acentuação, seria lido lapÍs, porque sagüi, Patati, escrevi, reli, entendi... Também não leva acentuação:

Falando um pouco mais detidamente sobre a contaminação por causa dos plurais, se vatapá leva acentuação, então vatapás também leva acento. Se carijó leva acento, a palavra “carijós” também leva e, por extensão, também Tapajós. Se café é acentuado, também a palavra “cafés” deve ser acentuada e, por extensão, viés, revés, invés, convés etc. Assim sendo, a regra não muda se a palavra termina em “s” ou não, sendo ela no plural ou no singular.

Um parâmetro bem seguro são os verbos conjugados. Quando uma conjugação verbal apresenta oxítonas, então as palavras que tenham uma configuração semelhante, não terão acentuação gráfica. Se você tem dúvida se “piriri” ou “Acari” leva acentuação, basta verificar se reli, bebi, biparti, leva acentuação. Contrário sensu, então biquíni tem que levar acentuação gráfica no segundo “i”, porque senão ficaria “biquinÍ”.

O caso das palavras terminadas em ditongos “ai”, “ei”, “oi” e “ui”, mantêm-se como oxítonas, mas a acentuação é na penúltima letra, senão vira hiato. A regra da conjugação verbal vale aqui também: cantai, peguei, foi, anui. Essa última palavra, é na terceira pessoa do singular, se for a primeira pessoa do singular, daí é hiato e tem que levar acentuação “anuí”.

As paroxítonas, então são a exceção da exceção. Aparentemente possuem acentuação gráfica apenas para que não se apliquem as outras regras. Mas nesse caso, também, basta procurar palavras parecidas. Há uma regra gramatical de vogais mais fortes e vogais mais fracas, na formação de ditongos e hiatos, mas isso é simplesmente uma teorização de uma realidade. Todo mundo sabe que “Laura” é um ditongo, da mesma forma que “Mauro” e caule. Por isso, se eu escrever “saude", da mesma forma que Laudes, haverá ditongo. Se eu quiser formar um hiato aí, então eu tenho que acentuar, daí vira “saúde”.

De outro lado, Luana, Ruanda, Coala, miau, boa etc., são hiatos, não por uma convenção , mas por causa de uma realidade na hora de pronunciar as sílabas, que, naturalmente, quando se fala “ai” ou “mãe” a articulação da palavra, naturalmente, requer que seja ditongo, ou seja, as vogais dentro da mesma sílaba, mas quando se fala Lua, Pia, Boa, etc., naturalmente a articulação da palavra demanda um hiato. Dizendo mais, ainda, Luau, Miau, entediai, possuem uma estrutura parecida, sendo que o “u” em relação ao “a” e o “i” em relação ao “a” sempre são hiatos, e o “a” em relação ao “u” e ao “i” são ditongos. Por isso que, se eu escrever Jundiaí, eu tenho que acentuar a letra “i”, de outra forma a conjugação da segunda pessoa do plural do verbo judiar, que seria “judiai”, não é acentuada.

 Enfim, o macete que eu gostaria de passar para vocês, além de explicar um pouco sobre as regras, é a utilização de palavras parecidas. Se você não conseguir palavras dentro das mesmas regras, tente palavras parecidas, com regras diferentes. Cito exemplos:

Você sabe que oxítonas terminadas em “i” não levam acentuação gráfica. Jundiaí é uma oxítona terminada em “i”. Será que leva acento? É difícil encontrar uma palavra parecida com Jundiaí, com três vogais no final da palavra com acentuação na última letra. Então procure palavras terminadas com essas mesmas três vogais que tenha acentuação em outro lugar. Judiai assim como cantai, falai e perguntai, não tem acentuação, então, para que a acentuação seja na última letra, formando um hiato e não um ditongo entre o “a” e o “i”, então você tem que acentuar a letra “i”, mesmo sendo oxítona terminada em “i”, por causa da regra das vogais fortes e vogais fracas na formação dos ditongos e dos hiatos.

Patati? Patati é uma palavra que, se você escrever no Word, vai aparecer sublinhada de vermelho, quer você escreva com, quer você escreva sem acentuação. Leva acentuação ou não? Segue a mesma regra de Parati, extorqui, diverti, assisti, garanti, emiti... Se tem uma conjugação verbal regular, então essas palavras são mais comuns, sendo palavras comuns, não se acentua, logo, Patati não leva acentuação.

Já o companheiro dele, o Patatá, da mesma forma que vatapá, cajá, tacacá, e outras delícias da culinária regional do Brasil levam acentuação. Para ter certeza, basta pesquisar palavras que possuam uma configuração semelhante com a acentuação em outra sílaba, como batata, macaca, banana, cocada, bolacha... Essas palavras não levam acentuação gráfica, então, caso fosse “caca”, ou “maca”, da mesma forma que máscara, ou vatapá, nesses casos levariam acentuação.

Outros exemplos:

Túnel segue a mesma regre de possível, crível e plausível, contrario sensu, se eu escrever funil, ardil, abril, hostil e gentil, não leva acentuação, então, fútil, útil, pênsil e fóssil, leva acentuação, por causa da aplicação da mesma regra.

Cárter, que é uma peça do motor dos automóveis, paroxítona terminada em “r”, segue a mesma regra de mártir e caráter. Para ter certeza, basta verificar se as oxítonas terminadas em “r” levam acentuação gráfica. Aqui nós temos todos os verbos no infinitivo e nenhum deles leva acentuação gráfica. Se as oxítonas terminadas em “r” não são acentuadas, então, por exclusão, as paroxítonas são acentuadas.

Agora as palavras terminadas em “z” que não sejam monossílabas?

Voraz, mudez, feliz, veloz, induz, raiz, juiz, Luiz, Inez² – Aqui é importante apontar que a letra “z”, muito embora, em muitos casos, possua a mesma pronúncia da letra “s”, ainda mais no final das palavras, a regra para a letra “z” é diferente da regra para a letra “s”. Se as oxítonas terminadas em “as”, “es” e “os”, como Carajás, Cafés e Tapajós, as oxítonas terminadas em “z”, nenhuma delas deve levar acentuação.

De outro lado, português, freguês, Inês, Luís², montês, viés, invés, através e Aimorés e após, levam acentuação gráfica.
Eu procurei bastante por palavras paroxítonas terminadas em “z”, mas aparentemente todas elas são oxítonas, até porque, em português, há poucas palavras com essa terminação.

A regra das palavras monossílabas é exatamente a mesma, entendendo a palavra inteira como se fosse a última sílaba da palavra:

Se feliz, capataz e refez não levam acento, então paz, fez e giz também não leva.

Se vatapá, acarajé e esquimó leva acento, assim como os respectivos plurais, então pá, fé, lê, Ló, nós. Observe que o pronome do caso reto “nós” leva acento, mas a castanha “noz”, não leva.

Essa regra não se aplica quando a monossílaba for pronome do caso oblíquo (me, mim, comigo, te ti, contigo, lhe, se, consigo, nos, conosco, vos convosco, lhes), assim sendo, a conjugação do imperativo do verbo ler, que seria “lê”, é acentuada, mas o pronome lhe, me e se não são.

O pronome oblíquo lhe é o único que pode ser flexionado como “lha”, e “lho”, mas, da mesma forma, mesmo pá, nó e a interjeição “sô” levando acentuação, esses pronomes não levam acentuação gráfica, isso porque eles são os oblíquos átonos e, como átonos que são, não levam acentuação tônica.

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1. Devido à Reforma Ortográfica, a qual em não aderi nas minhas petições e nos meus textos escritos, o trema caiu em desuso. Eu mantive o trema nessa palavra para auxílio no entendimento da pronúncia.

2. Nomes próprios, nem sempre, seguem a regra gramatical do Brasil, porque, como nomes próprios, principalmente sobrenomes, são das mais diferentes origens possíveis, seguindo as regras gramaticais dos idiomas de origem, à época em que tais substantivos próprios foram cunhados, sem contar que há erros no registro, escrevendo-se Luíz, Inêz, etc.

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