terça-feira, 19 de junho de 2018

Por que, Porque, Por quê e Porquê.

Qual a forma correta de utilizar os Porquês que por que isso importa?



É importante, primeiramente, entender a função sintática de cada forma, para que não caiamos naquela decoreba de, “por que” pergunta, “porque” resposta, final de frase, etc., até porque a dificuldade está justamente na decoreba. Lembra-se que existe uma forma para pergunta, uma para resposta, uma no final de frase, mas quem é quem?



POR QUE

Primeiramente, o “por que” separado e sem acento é a junção da preposição “por” com o pronome “que”, que pode ter a função de pronome relativo, interrogativo ou indeterminado. Parece complicado, mas é mais simples que parece:

Por que a ação não foi provida?
Por que o processo foi extinto?
Por que o juiz condenou o Réu?
Por que o juiz condenou o Autor em multa por litigância de má-fé?

Em todos os casos há o uso da preposição “por” com o pronome interrogativo “que” e subentende que depois do “que” existe uma palavra como “motivo” ou “razão”, exemplo:


Por que motivo a ação não foi provida
Por que razão o processo foi extinto?
Por que crime o juiz condenou o Réu?
Por que ato processual o juiz condenou o Autor em multa por litigância de má-fé?

Todo mundo sabe que a partícula “por” é uma preposição e é colocada como preposição de alguns verbos como “caminhar por estradas” e “clamar por justiça”, formando um objeto indireto.

Da mesma forma, todo mundo sabe o que seja um pronome interrogativo. Aliás, o pronome interrogativo “que” pode ser substituído pelos demais pronomes interrogativos:

Por qual crime você foi condenado?
Por quem essas ameaças foram feitas?
Por quanto o imóvel foi arrematado?

Assim sendo, o “POR QUE” é apenas a junção de duas palavras, sendo que, cada uma delas desempenha uma função sintática própria.

Também é possível usar como o “que” na função pronome relativo e indeterminado:

Como pronome indeterminado:
Não sei por que o acusado foi condenado.
Ainda não sei por que a ação foi improvida.
Não saiu o Acórdão, então não sei por que o processo foi extinto.

Como no caso anterior, há uma palavra oculta depois do pronome indeterminado “que”, podendo ser “motivo”, “situação”, “argumento”. Vamos aos exemplos:


Não sei por que crime o acusado foi condenado.
Ainda não sei por que motivo a ação foi improvida.
Não saiu o Acórdão, então não sei por que fundamento o processo foi extinto.

Como pronome indefinido há sempre uma ideia de negativa, de desconhecimento, uma resposta de quem não sabe a resposta. Quando a pessoa souber a resposta, ela vai usar o “porque”.

Mas para terminar este tópico, ainda pode ser usado como pronome relativo:

Os caminhos por que passei.
As situações por que passei.

Não tem muita coisa a explicar sobre o assunto. Não se trata de uma locução, ou de uma ideia passada por duas palavras, como “a testemunha recebeu um ‘cala boca’ em dinheiro”, mas de duas palavras desempenhando, cada qual a sua função sintática própria.


PORQUE

O porque junto e sem acentuação é uma conjunção causal ou explicativa.

Conjunção é uma palavra invariável (não flexiona em gênero, número, intensidade, etc.) que liga duas orações. Isso é importante para se fazer análise sintática, orações coordenadas e subordinadas.

Dessa forma, ainda que a frase comece com a palavra “porque”, subentende-se que você esteja respondendo a uma pergunta, porque, como conjunção, ela deve ligar duas orações. Vamos ver na prática.

Pergunta: Por que a ação foi extinta?
Resposta curta: Porque houve prescrição.
Resposta completa: A ação foi extinta porque houve prescrição.

É importante ter em mente que a palavra “porque” seja conjunção, principalmente na linguagem escrita, justamente para se dar preferência em escrever a resposta completa, uma vez que a conjunção deve ligar duas orações.

Dessa forma, a palavra “porque” pode ser substituída por outras expressões equivalentes, como “pois”, “uma vez que”, “tendo em vista que”, etc. Exemplos:

O Réu foi indiciado porque ele está sendo acusado de latrocínio.
Eu fui arrolado como testemunha porque eu presenciei os fatos.
O imóvel não foi vendido porque o preço pedido foi muito alto.

Substituindo pelas expressões equivalentes:

O Réu foi indiciado pois ele está sendo acusado de latrocínio.

Eu fui arrolado como testemunha uma vez que eu presenciei os fatos.

O imóvel não foi vendido uma vez que o preço pedido foi muito alto.



IMPORTANTE – Na linguagem escrita, importante constar as duas orações, escrevendo a resposta completa, iniciando com o fato a ser respondido e não diretamente com a conjunção “porque”. Exemplo: “O Réu foi absolvido porque o fato cometido não constitui crime” em vez de escrever apenas “Porque o fato cometido não constitui crime”, ainda que seja respondendo a uma pergunta constante da linha imediatamente acima.



POR QUÊ

Esse caso é semelhante ao primeiro. É a junção de duas palavras, sendo que cada uma delas tem a sua função sintática.

O “quê” acentuado é um substantivo masculino e não é privilégio da expressão “por quê”, mas sempre que ele estiver no final da frase deve ser acentuado. Muito comum dizer que “a testemunha disse não sei o quê”. Quando for escrever esse “não sei o quê”, ele deve ser acentuado, assim como “a testemunha disse aquilo por quê?”.

Nesse caso, o sentido frase é mantido como “por que motivo”, ou “por que razão”, ainda, no caso do advogado: “por que crime”, “por que fato”, etc.

Sempre que o “quê” estiver no final da frase ele é substantivo, indicando uma ideia, um fato, um objeto indeterminado. No caso do “por quê”, mantém-se o sentido interrogativo da oração. No entanto, como a regram manda acentuar sempre o “quê” no final de frase, mesmo que você escrever uma frase com de sentido afirmativo, a regra é a mesma: “A testemunha não veio por quê?”. “A testemunha faltou não sei por quê.”.


PORQUÊ

Porquê, junto e com acento é uma construção que transforma a conjunção “porque” em um substantivo.

Esse caso é o mais simples e direto de se verificar porque ele sempre vem acompanhado de artigo e substitui a palavra “motivo”. Na verdade o “porquê” é um sinônimo de “motivo”.

O acusado informou o porquê de ter cometido o crime?
O acusado informou o motivo de ter cometido o crime?
O acusado não informou o porquê de ter cometido o crime.
O acusado não informou o motivo de ter cometido o crime.

Muito embora seja infinitamente mais comum ser usado o artigo definido “o”, nada impede a utilização de artigo indefinido:

O acusado não informou um porquê de ter cometido o crime.

Nenhum comentário:

Postar um comentário